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Defensoria Pública ajuda mulheres a enfrentar a violência doméstica

Durante 25 anos, Júlia (nome fictício) conviveu com um homem que a violentava física e psicologicamente. Mesmo depois de sair de casa e ir morar em outra cidade, o companheiro de Júlia continuou a visitá-la para persegui-la, torturá-la e espancá-la. Ele chegou a prendê-la dentro da residência e a ameaçá-la com revólver. Segundo ela, uma vez ele foi ao seu trabalho e a agrediu diante de várias pessoas. Em outras ocasiões, atirou contra a casa casa dela.

Em entrevista à Agência Brasil, Júlia contou que foi agredida pelo companheiro, com o qual teve três filhos, durante todo o período em que viveram juntos. Ela chegou a registrar oito boletins de ocorrência na polícia , mesmo com a desaprovação da família.

“Quando pedi ajuda para minha família, um dos meus irmãos disse aquela velha frase – 'ruim com ele, pior sem ele' – e que eu tinha meus filhos. Além disso, eu tinha vergonha, achava que se falasse para as pessoas eles me recriminariam, em vez de me ajudar”, disse Júlia.

Há seis anos, ela se considera recuperada psicologicamente e livre do ex-marido. A liberdade começou em 1993, quando procurou a Casa Eliane de Grammont e encontrou apoio psicológico e incentivo para mudar a situação. Se a Defensoria Pública já atuasse no local naquela época, Júlia acha que teria conseguido encaminhar com mais facilidade os processos contra o marido e também o de separação.

“Embora meu caso tenha ido para o fórum, tenha sido julgado, muitas vezes encontrei dificuldade até para registrar um simples boletim de ocorrência. Se a Defensoria Pública já existisse aqui, alguém teria que me orientado sobre meus direitos, meu divórcio teria sido mais fácil. Eu lidei com tudo no escuro, abalada psicologicamente e sem dinheiro”, lembrou Júlia.

Embora tenha vivido situação igualmente dolorosa, Raquel (também nome fictício) conta com o apoio dos defensores públicos na Casa Eliane de Grammont para superar a violência doméstica. Durante dez anos de casamento, ela foi agredida três vezes. Em todas ocasiões, registrou ocorrência na polícia. Em uma delas, foi hospitalizada com traumatismo craniano. Mesmo assim, não teve coragem para deixar o companheiro.

O agressor, recordou Raquel, chegou a ser chamado ao fórum. Lá, ela disse ter percebido que todos os esforços eram feitos para que não prejudicasse o companheiro. “Eles me diziam para aceitar as desculpas, esquecer tudo e voltar para casa, porque ia ficar tudo bem. Diziam para eu sair da casa, ir cuidar da minha vida, como se as pessoas pudessem viver assim. Como se tivesse um mundo mágico do outro lado da agressão”.

Quando decidiu acabar com a situação, Raquel procurou a Casa Eliane de Grammont, onde encontrou orientação da defensoria pública para seguir com outros dois processos. “Há três semanas, eu não conseguia falar, dizer o que eu queria. Aqui me tranqüilizaram e me orientaram.”

Raquel disse que, a partir do encontro com os defensores públicos na Casa Eliane de Grammont, passou a se sentir mais segura. Por isso, está fazendo tudo com a tranqüilidade e seguindo os caminhos legais. “Os dois defensores que me atenderam tiveram procedimentos absolutamente idôneos. Me mostraram os caminhos, segui as orientações deles e encontrei respostas. Estou no começo de tudo, confio que serei ouvida, não sei se serei atendida.”