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Para críticos das cotas raciais, origem da desigualdade no Brasil é social

O sistema de cotas na Universidade de Brasília (UnB) completou quatro anos esta semana em meio a várias críticas. Outras 33 universidades adotam algum tipo de reserva de vagas, segundo o Ministério da Educação. O coordenador nacional do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda, tem feito campanha contra a diferenciação entre negros e brancos na seleção universitária. Ele defende a idéia de que o principal problema não é racial, mas o abismo que existe entre as classes sociais no Brasil.

“Para lutarmos contra o preconceito, contra a discriminação, contra o racismo, nós temos que lutar por mais igualdade, não por diferenciar as pessoas, não por afirmar a diferença das pessoas, mas sim afirmar a igualdade. Então quanto mais direitos, oportunidades nós damos a todos, mais democrático vai ser esse acesso”, diz Miranda, que entregou um manifesto contra as cotas raciais no Congresso Nacional.

Apesar de admitir a existência de racismo no país, José Carlos diz que a política de cotas raciais “troca seis por meia dúzia”, uma vez que não induz o Estado a investir mais recursos na educação, na saúde e no mercado de trabalho.

“Essa é uma política que está baseada no princípio que as pessoas são diferentes, no princípio que existem raças humana ou etnias diferentes. Nós combatemos firmemente qualquer forma de discriminação positiva ou negativa, porque nós sabemos, que ao fim e ao cabo, qualquer discriminação, em qualquer outro momento, ela pode se transformar de positiva em negativa.”

Também contrária à política de cotas raciais, a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Yvonne Maggie, afirma que a definição das pessoas como brancas ou negras é feita por perspectivas sociológicas e culturais. Mesmo admitindo que existem diferentes cores de pele, de olhos e tipos de cabelo, os brasileiros não dariam importância aos marcadores sociais.

“O que nós temos são dados que mostram que o que distancia as pessoas com cores diferentes é a sua posição social e não a sua posição como pertencente a um determinado grupo. No Brasil, nós temos uma cultura que valoriza a nossa condição de sociedade não-racista”, diz a professora, autora do livro Divisões Perigosas.

Para Yvonne Maggie, o país precisa pensar uma educação superior de massa, e não reservista. “Nós estamos colocando errado a questão. A questão é fazer com que muitas pessoas se formem no ensino médio, 30% apenas das pessoas terminam o ensino médio na faixa etária correta. Esse é o grande gargalo e a grande vergonha da nossa sociedade. Nós colocamos 70% dos nossos jovens na rua e sem o diploma do ensino médio.”