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As Torres do Poder

Os povos do mundo tentam de todas as formas sobresair uns sobre os outros. Ser o melhor, o mais rico, o mais alto, o mas industrializado, o mais armado, o mais poderoso são desejos de todas as nações. O campo da construção civil tem sido fértil para acirrar a disputa pelo maior arranha céu do mundo, ou seja, quem tem o maior prédio do planeta.

Se os homens construíssem cada vez mais alto visando encontrar Deus, estaríamos todos felizes. Porém a busca não é religiosa, mas puramente egocêntrica. Após a derrubada das Torres Gêmeas, os Estados Unidos sentiram-se, em seu poder fálico, diminuídos, amedrontados, castrados e por isso, agora, ainda ressentidos do ataque, irão construir a maior torre do mundo, apelidada de Torre da Liberdade porque seria uma homenagem à Estátua da Liberdade, um presente francês aos americanos.

A chamada Torre da Liberdade será construída em local diverso das torres derrubadas, e jamais fará sombra no horário em que ocorreram os ataques. Ora, o pesar pelas perdas humanas no ataque não irá nem aumentar, nem diminuir com o simples fazer sol ou não no local, a chaga continuará lá, intacta, aberta e sempre sangrando na história americana.

O Tio Sam parece ter esquecido porque as torres gêmeas foram atacadas, justamente pelo caráter simbólico, por serem gêmeas, enormes, gigantescas e, por isto mesmo alvos. Atacar um símbolo nacional é ferir o povo, é subjugar, é humilhar. O orgulho americano parece não ter fim, nem medida, nem limites. A nova torre, depois de construída, certamente será um novo alvo, mais imponente e mais agressor aos olhos dos opositores, que almejaram derrubá-la, porque derrubando-a virá novamente a castração, novamente a humilhação de não poder afirmar a grandeza almejada.

A democracia exige humildade, convivência pacífica e principalmente o abandono dos egocentrismos e auto-exaltações públicas. Quem esfrega sua riqueza nas fuças dos mais humildes é soberbo, inconseqüente. O império romano ousou ser soberbo, Hitler ousou ser soberbo e tudo para eles um dia acabou. O velho mundo, neste aspecto, parece ensinar às demais nações que não é preciso mostrar que se é grande, mas é preciso ser grande. O ideal francês da revolução pregava: igualdade, liberdade e fraternidade. Esta tríade parece ser o centro do sucesso da democracia.

Ser grande é ser virtuoso, fraterno, igual o que se contrapõe à idéia de ser o melhor. Nem sempre os melhores têm tudo e nem sempre os melhores são felizes. De que adianta ter poder para construir para depois viver amedrontado por um novo ataque? Ou pior, viver dia após dia sob a ameaça constante de um ato terrorista? Quem derrubar a Torre da Liberdade, a maior do mundo, será o maior terrorista de todos os tempos. Êpa, voltamos ao mesmo ponto, ser o maior…

Artigo finalizado em 18/1/2004